“Utopia e barbárie” no Cinema e Saber

31 de agosto de 2016


“É preciso explicar por que o mundo de hoje, que é horrível, é apenas um momento do longo desenvolvimento histórico e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e das insurreições. E eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro.”

(Jean-Paul Sartre, prefácio de Os condenados da terra, de Franz Fanon)

 

Lançado em 2012, Utopia e barbárie, documentário de Silvio Tendler, é um road movie histórico que percorreu mais de 15 países e levou quase 20 anos para ser concluído. O diretor entrevistou testemunhas oculares para apresentar a história do século XX a partir de dois enfoques, a barbárie e a utopia. Tendler realiza em sua narrativa um movimento entre o realismo e o idealismo político. Essa dança não é harmônica; ela representa o caos e a implosão de um ideal de civilização estruturado pelo Iluminismo no século XVIII, a civilização ocidental.

Os alunos do Ensino Médio participaram de uma atividade conduzida pela professora de História Márcia Juliana, que desenvolveu o tema da utopia, e pelo professor de Geografia Filipe Giuseppe, responsável por abordar a barbárie. Dessa forma, coube à História falar da utopia e à Geopolítica tratar da barbárie. A luta por um mundo diferente deste em que vivemos está presente nas mais diferentes sociedades (França, Israel, Checoslováquia, Vietnã, China, Brasil, Chile, Argentina etc.), e o processo de barbárie está presente na luta pela hegemonia do poder político mundial. O documentário mostra que os sonhos e a vontade de mudar o mundo devem esperar o momento oportuno, e, em nome de uma civilização, serão feitas as maiores barbáries da história da humanidade, como bombardeio nuclear, bombardeio em alvo civil, tortura, golpe de estado, terrorismo, guerra assimétrica.

O objetivo do debate era propor uma concepção crítica do contexto da “era dos extremos”, percebendo que as utopias e a barbárie não são exclusivos de um projeto político-ideológico específico.

Para discutir a barbárie, o professor Filipe Giuseppe apresentou a tese do historiador Eric Hobsbawn explicada em um ensaio intitulado “Barbárie: o manual do usuário” (Sobre história. Cia. das Letras, p. 268-280). Em sua tese, o historiador inglês afirma que o século XX será marcado por um processo denominado “barbarização da civilização ocidental” em quatro estágios de escalada catastrófica (Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e mundo pós-colapso da URSS); “a barbárie esteve em crescimento durante a maior parte do século XX, e não há nenhum indício de que esteja no fim” (Sobre história. Cia. das Letras, p. 268).

A professora Márcia Juliana apresentou a utopia a partir de diferentes manifestações sociais. A utopia revolucionária, em que jovens lutam pegando literalmente em armas em nome de um ideal, como foi a Revolução Cubana em 1959, ou usando a não violência como resistência pacífica, como na Primavera de Praga de 1968; a utopia cultural, que rompe com os padrões de comportamento e busca novas formas de interações sociais, como o movimento hippie; a utopia artística, em que a arte é usada como forma de protesto; a arte engajada de John Lennon, Geraldo Vandré, Joan Baez, entre outros músicos; a utopia racial, com os black powers ou os “panteras negras”, que buscavam de formas diferentes direitos iguais.

Como reflexão final, ficaram as seguintes perguntas: O sonho acabou? É o fim da história? O que permaneceu dessas Utopias? A humanidade está fadada a viver sem poder sonhar?

O exemplo desses jovens que lutaram por uma utopia nos ensina que vale a pena ter esperança e que um mundo melhor, mais justo e fraterno é uma construção pela qual toda a humanidade deve se responsabilizar.

Filipe Giuseppe é professor de Geografia e Márcia Juliana leciona História, ambos no Ensino Médio.