Parada Reflexiva

17 de agosto de 2016


Quem não tiver experiência com adolescentes e entrar em uma sala de aula da Móbile do Ensino Médio certamente se surpreenderá com o poder de argumentação que pessoas tão jovens têm diante de temas espinhosos relativos ao cenário nacional e internacional. Questão israelo-palestina, crise na Turquia, impeachment, amor na contemporaneidade são alguns dos motes que têm servido para acaloradas discussões nas aulas de Filosofia, Ética e Cidadania, História, Geografia, Estudos Literários etc.

Mas e quando esses adolescentes são convidados a discutir o papel ativo deles neste complexo século? Como se comportam? Eles têm a mesma desenvoltura que apresentam nos debates sobre temas mais distantes, ainda que afetem direta ou indiretamente suas vidas? Conscientes da importância de um espaço mediado de reflexão e de um trabalho preventivo sobre alguns fenômenos que estão presentes na vida de nossos adolescentes, os educadores da Móbile criaram a Parada Reflexiva.

Nesse projeto, os alunos do Ensino Médio foram surpreendidos, no primeiro dia de aula do segundo semestre, com uma divisão diferente de turmas: estavam misturados adolescentes do 1º, do 2º e do 3º ano em uma mesma sala. Nesses grupos mistos, eles foram convidados a discutir oito situações-problema envolvendo novos paradigmas estabelecidos pelos movimentos feministas, uso abusivo de drogas, noções de público e privado, posicionamentos políticos, entre outros temas presentes no cotidiano dos alunos (e no nosso). Eles precisaram se posicionar respondendo “o que fariam” e o que “considerariam adequado fazer” em cada uma das situações apresentadas, evidenciando o abismo que, muitas vezes, há entre as ações que realizamos e aquelas que seriam, de fato, corretas.

Após o debate feito em quartetos (e depois por toda a classe), mediado pelos coordenadores e professores, os alunos assistiram a uma passagem da trilogia Antes da meia-noite, em que o casal protagonista do filme conversa com outros casais de diferentes idades e com experiências diversas sobre os supostos papéis do homem e da mulher em uma relação amorosa. Depois do filme, foram lidos dois contos da autora cabo-verdiana Dina Salústio. Por meio do cinema e da literatura, os alunos puderam entrar em contato com estereótipos, preconceitos, valores e outras ações que, de tão repetidas sem crítica e autocrítica, mais parecem naturais e imutáveis.

O evento foi encerrado com a possibilidade de os alunos expressarem, por escrito (em post its coloridos), o que aprenderam ao longo dos debates. Um grande painel público serviu de suporte para os mais variados pensamentos.

Sabemos que a informação obtida em palestras sobre os mais variados temas (ciberbullying, drogas, ecologia etc.), e dada por profissionais qualificados, é importante; entretanto, de nada vale se não vier acompanhada da reflexão e do exercício da alteridade e da autopercepção, como provou a Parada reflexiva. Os adolescentes têm voz; é preciso estar atento para ouvi-la.

Wilton Ormundo é diretor do Ensino Médio.