Dia Internacional da Mulher: uma proposta de reflexão
11 de março de 2016
Muitas são as formas de lidar com efemérides como o Dia Internacional da Mulher. Podemos ceder ao sedutor universo das compras e mergulhar sem culpa nas lojas com suas inúmeras opções, protestar por meio da negação do valor efetivo de uma data ou, como fizeram as alunas do Ensino Médio, aproveitar a oportunidade para convidar uma comunidade a refletir.
No dia 8 de março, nossas alunas receberam os alunos da Móbile na porta, oferecendo-lhes flores, muito bem acompanhadas da carta a seguir.
“A data de hoje acabou esvaziada de sentido, foi excessivamente romantizada e voltada apenas ao marketing. (“Promoção do Dia da Mulher, em compras acima de tantos reais, leve um brinde!”). Mas, atrás da fachada comercial, existe um sentido para a “comemoração” do chamado gênero feminino.
A ideia de criar o Dia da Mulher nasceu dos movimentos que buscavam melhorias nas condições de trabalho e o direito ao voto feminino. No dia 8 de março de 1908, houve um protesto das operárias nova-iorquinas que reivindicavam melhores condições dentro da indústria têxtil. Tal movimento foi respondido com extrema violência. As operárias foram trancadas no prédio onde trabalhavam e o local foi incendiado. Saldo: 130 mulheres mortas. Nove anos depois, em 1917, a data foi marcada por manifestações de trabalhadoras russas que exigiam melhorias nas condições de vida e de trabalho.
O direito ao voto é uma reivindicação que fortalece e valoriza a importância que tem o Dia da Mulher, tendo sido concedido de modo pioneiro pela Nova Zelândia, em 1893. Em 1897, nasce o movimento sufragista no Reino Unido, mas as mulheres só conquistaram o direito ao voto em 1918. A lei britânica de 1918 deu forças para que mulheres de diversos outros países reivindicassem seu direito ao voto, acreditando que isso possibilitaria a elas melhora de sua qualidade de vida em todos os sentidos. No Brasil, houve uma primeira solicitação por tal direito em 1891, mas a mulher brasileira só votou a partir de 1935, em tempos em que o movimento sufragista tornou-se mais forte.
Ainda há muito o que fazer…
Hoje, dia 8 de março de 2016, a mulher ganha, em média, 30% a menos que o homem ocupando um mesmo cargo. A mulher paga 7% a mais pelo mesmo produto. 62.000.000 de garotas não estudam. A morte no parto é a 2ª maior causa de mortes de garotas entre 14 e 19 anos. Duas a cada três pessoas que não sabem ler e escrever são mulheres. No Brasil, a cada 11 minutos, 1 mulher é estuprada e 7 de cada 10 mulheres que telefonam para o ‘Ligue 180’ afirmam terem sido agredidas por seus companheiros.
Dizer que o feminismo é desnecessário é negar que as mulheres precisam lutar pela igualdade política, social e econômica. (Os dados acima mostram essa necessidade.)
Ainda lutamos para andar na rua, em qualquer hora do dia, tão tranquilamente quanto um homem. Lutamos para não sermos estupradas (numerosa e cotidianamente); para usarmos a roupa que queremos sem sermos ofendidas e julgadas; para provar que lugar de mulher é onde ela queira estar, e não apenas no espaço domiciliar; para quebrar os padrões que nos foram impostos; para honrar aquelas que lutaram por nós; para que nossas filhas tenham um mundo mais justo. Não é uma luta vã e não é uma luta que se luta só.
Frente a todo o progresso, mas principalmente às dificuldades ainda a serem superadas no mundo, temos muito o que fazer. Ajude-nos a fazer com que as flores, o amor e a liberdade possam REALMENTE um dia fazer sentido.”