Sobre a ECA

29 de março de 2014


A seguir, ex-alunos da Móbile nos contam sobre sua experiência universitária.

luis-felipe Sobre a ECA
Luis Felipe Labaki

A ECA (Escola de Comunicações e Artes) é um lugar curioso. Para começar: o que seriam cursos de comunicação e cursos de artes? É um nome muito amplo para uma divisão arbitrária dos cursos que integram a escola.

Os “cursos de comunicação social” mais conhecidos são Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, juntando-se a eles Editoração, Biblioteconomia e Turismo. As “artes” seriam Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música. E o Audiovisual? Curiosamente, é um curso de comunicação social, talvez por ter surgido da fusão entre Cinema (arte) e Rádio e TV (comunicação). Mas, apesar das denominações formais, predomina na grade o conjunto de matérias de cinema.

Cada curso possui um prédio próprio, ou divide o departamento com algum outro (como Jornalismo e Editoração, Publicidade e Relações Públicas). Cada uma das artes possui seu próprio departamento – mas o prédio do audiovisual ainda está em construção. Por isso, os alunos vagam entre o prédio central da ECA e a Antiga Reitoria da USP, onde um andar inteiro está provisoriamente abrigando os estúdios de gravação, salas de aula, de equipamento etc.

Isso tudo explicado, fica mais fácil entender a interação entre os alunos da ECA. No início do ano (leia-se: ano letivo, portanto, na primeira semana de março), antes do começo das aulas, há uma “semana dos bixos”, com diversas atividades programadas pela Atlética e pelo Centro Acadêmico. Foi nessa semana que nós todos fomos para os faróis pedir dinheiro, tivemos uma rápida apresentação sobre cada departamento, palestras sobre a ECA, conversas com ex-“ecanos” (teoricamente) ilustres e assim por diante. Mas o principal dessa semana é que todo mundo conversa com todo mundo, todos os cursos estão misturados nas mesmas atividades (com exceção das Artes Cênicas, que seguem uma ‘tradição própria’). Pois então: isso raramente vai acontecer de novo.

A ECA reúne grupos muito diferentes e, até mesmo por razões de “distribuição espacial”, é inevitável uma separação entre os estudantes de comunicação e das artes, durante a maior parte do tempo. Falando especificamente do audiovisual, a carga horária é tão pesada (principalmente durante a preparação dos exercícios práticos) que fica difícil interagir intensamente com muitas pessoas de fora do curso. No entanto, às quintas-feiras acontece uma “confraternização noturna” de toda a ECA, que atrai também muitas pessoas de outras faculdades da USP, geralmente com apresentações de bandas. Nesses momentos, há, sim, uma interação maior entre os cursos, mas é bobagem imaginar que a ECA é um lugar lindo e unido, como tentam nos convencer veteranos animados, na primeira semana de aula. Apesar disso, ela é, sim, ótima, com muito espaço para os estudantes interagirem (independentemente de eles o fazerem ou não) e boa infraestrutura.

A biblioteca possui um acervo gigantesco de livros, revistas, jornais, partituras e – especialmente interessante para nós do audiovisual – filmes. É verdade que a videoteca parecia mais interessante no começo do ano, quando eu não tinha percebido ainda que grande parte dos filmes que seriam interessantes de levar para casa não podem ser retirados. Mesmo assim, não deixa de ser um ótimo acervo, e sempre há a opção de assistir na própria biblioteca.

Sobre o curso de audiovisual, claro que há problemas. Alguns são menores do que eu esperava – e outros, maiores –, mas, no geral, o curso é muito bom. A USP tem fama de ter pouquíssimo dinheiro e péssima infraestrutura. É verdade, mas não especificamente para o audiovisual. É claro que, em comparação com o Senac ou a FAAP, em que todos utilizam computadores da Apple desde o primeiro ano, a USP está em “desvantagem”, mas nós temos um ótimo laboratório de Informática, com muitos computadores rápidos e ideais para o tipo de exercício que fazemos até o segundo ano. A partir do terceiro, podemos usar computadores mais avançados, esses, sim, da Apple.

O departamento acabou de comprar câmeras novas para serem usadas pelo primeiro e segundo ano, e são ótimas. Conforme nossas produções ficam mais complexas, mais elaborados ficam os equipamentos. No prédio que está sendo reformado, estão construindo dois grandes estúdios de filmagem, além de um novo estúdio de gravação de som. O maior problema de infraestrutura é que são pouquíssimas câmeras e instrumentos de iluminação/captação de som, o que acaba atravancando as produções. O ponto forte são as aulas teóricas, de dramaturgia, história do audiovisual, história do audiovisual brasileiro, montagem etc. Os professores são ótimos, e estudar cinema hoje em dia é incrivelmente melhor do que há quinze anos. A quantidade de filmes antigos disponíveis em DVD facilita muito a estruturação de bons cursos de história; a edição digital torna o processo muito mais acessível. Em resumo, os alunos começam a estudar cinema com um conhecimento prévio potencialmente maior.

Além disso, talvez a maior vantagem de estudar na USP é a possibilidade de fazer matérias fora do seu próprio curso, até mesmo em outra faculdade da universidade, matriculado ou mesmo como ouvinte. Há sempre o perigo de se inscrever em matérias cujo nome parece interessantíssimo e as aulas são completamente vazias, mas essas não são maioria.

A USP e, mais especificamente, a ECA, são ótimos ambientes, apesar dos muitos defeitos. A grande maioria dos alunos de anos mais avançados diz que nós, do primeiro ano, ainda vamos aprender a não aguentar mais ir para lá todos os dias. Mas isso fica para daqui a três anos, em meio a TCCs e estágios.

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