Em que quarto você vive?

10 de maio de 2017


Poucos metros quadrados, desenhos animados, rato de estimação, visitas de um estranho e o amor de sua mãe. O que mais você conhece? O personagem Jack não sabia muito mais do que isso.

Um grupo de adolescentes do Ensino Médio da Móbile se reuniu para refletir sobre o que de fato conhecem, sobre o que é realidade, sobre como e por que se vive. Tais pensamentos foram impulsionados pelo filme O quarto de Jack (2015), de Lenny Abrahamson. No longa, um menino nasce e vive seus primeiros cinco anos dentro de uma espécie de “quarto-bunker”. A mãe de Jack fora sequestrada e abusada por um homem durante 7 anos. Dessa relação indesejada e violenta, surgiu o pequeno Jack. Esse menino de cabelos longos, à maneira do prisioneiro de Platão, nasceu dentro de um quarto e não conhece nada além do que está diante dos seus olhos. Um dia, foi arrancado de sua caverna e, com muita coragem, se lançou no desconhecido. Abriu os olhos para sentir o céu, lembrou-se das palavras de sua mãe e, literalmente, saltou para um novo mundo.

Os pensamentos partilhados pelo grupo de jovens da Móbile evidenciam a dificuldade de “sair do próprio quarto” e abrir mão da vida conhecida. Por que deixar de ter uma vida ”tão boa”? Tenho tudo de que preciso e desejo continuar tendo quando for dono do meu próprio nariz. Mas será que essa vida é tão boa assim? Como saber o que é prazer ou anestesia, realização ou conformidade, felicidade ou alienação? Sem respostas definitivas, vivemos, naquela tarde de sexta-feira, algumas horas de pensamentos inconclusivos, de proposições instigantes e de hipóteses provocadoras. Cento e sessenta adolescentes foram sensibilizados por um menino e sua história. Cento e sessenta pessoas se indagaram sobre o próprio olhar. Cento e sessenta jovens interessados em Cinema e Filosofia se encontraram para não mais dormirem no mesmo quarto.

Jack, ao sair de seu quarto, passou por dores inevitáveis, conheceu novas pessoas e ressignificou a relação de amor com sua mãe. Jack, assim como o prisioneiro da alegoria platônica, desejou voltar para o seu quarto – mas não para ficar em definitivo e morar lá novamente. Desejou apenas uma visita. Voltou para se despedir, para romper definitivamente com sua antiga realidade e para nunca mais ser o mesmo.