Histórias cruzadas, reflexos de prosa-poesia

21 de agosto de 2019


Histórias cruzadas, reflexos de prosa-poesia

o outro
que há em mim
é você
você
e você

(Contranarciso, Leminski)

O espelho não simplesmente traduz, mas reproduz, duplica. O 7º ano convida você a um exercício de empatia diante de versos de resistência, denúncia e ciência de um terrível episódio de nossa história: a escravidão. Diante do espelho exposto, vemos como os outros nos veem e, frente à prosa num estado de poesia, vemos o que há do outro em nós. Conhecer a cultura afro-brasileira foi conhecer-se. Espelhar-nos no continente africano foi espelhar-se. E é esta dualidade da identidade brasileira, o reflexo entre o passado escravista e o presente, que orientou o expressivo Projeto Histórias Cruzadas.

O trabalho teve como foco inicial pesquisas relativas à(s) história(s) do continente africano e a identificação de suas plurais características culturais e socioeconômicas. Depois de vivências dentro e fora da escola, na disciplina de Artes nossos alunos associaram a experiência estética à construção de lembranças, materializadas em “caixas de memórias”, do protagonista escravizado.

Este, nas perspectivas de Língua Portuguesa e História, por sua vez, tornou-se voz narrativa e eu lírico de uma herança africana entendida como matriz cultural formadora de nossa identidade nacional. Nas produções desenvolvidas, as construções literárias só foram possíveis porque nossos alunos se colocaram no lugar de homens, mulheres e crianças africanos submetidos à lógica colonizante dos séculos XVI a XIX.

Entendemos que nada é tão unilateral que não contenha seu oposto. O espelho é expediente para enxergarmos para além de uma África folclorizada e vermos nossos artesãos das palavras imbuídos não somente de uma compreensão não fragmentada da História, atendendo à natureza múltipla do processo histórico em estudo, mas também sensíveis ao que nos une, a assunção de humanidade. Afinal, nas palavras de Leminski, “Assim como/ eu estou em você/ eu estou nele/ em nós/ só quando estamos em nós/ estamos em paz”.

Augusto Russo
Clarissa Mariano
Julia Ferrari
Luca Caltran