Poéticas da imigração

21 de agosto de 2019


Poéticas da imigração

 

A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade.

(Antonio Candido, “O direito à literatura”, 1988)

 

 

A poesia faz com que tenhamos uma relação diferente com a palavra, com o texto. Nela, há poucas certezas. E os trajetos seguros passam a ser múltiplas veredas que não raro nos conduzem não a um destino certo, mas a um impasse. Mais do que qualquer outro gênero de texto, a poesia nos tira do eixo na medida em que nos apresenta uma linguagem peculiar, provocadora em sua própria forma de estar disposta no papel. Mas essa é uma desestabilização frutífera, que nos põe em contato com outras dimensões da vida e da palavra. E é na volta à realidade da língua que nos percebemos mais conhecedores de nossa natureza humana e de nosso idioma.

E por que trabalhar esse gênero cruzado à temática da imigração? Os deslocamentos humanos a que chamamos migração estão no cerne da formação de diversas nações, bem como na configuração e reconfiguração de fronteiras. Um breve olhar para os noticiários, atualmente, comprova a latência dessa questão na contemporaneidade. Indivíduos, famílias, grupos ou caravanas fugindo de guerras, catástrofes naturais ou outras mazelas. Tão latentes quanto os fluxos migratórios ora em curso são as reações a esse processo, numa corrente xenofóbica que naturaliza a globalização econômica, mas criminaliza a globalização das pessoas.

Pesquisando esse processo e abrindo-se para a experiência criativa da palavra e da imagem poéticas, os alunos do 9º ano chegaram aos resultados que você, visitante, poderá ver a seguir. Que neste percurso claustrofóbico possa ficar claro que as grades separam e prendem pessoas, mas nunca poderão sufocar a sensibilidade e a potência de palavras e de ideias.

Lívia Cangiano Antipon
Rogério Viana Gusmão