Adaptação na Educação Infantil
20 de março de 2017
Todo início de ano, o tema da adaptação se apossa de nossos pensamentos, e uma avalanche de sentimentos invade todos os envolvidos no processo de conhecer o grupo de colegas, as professoras, a sala de aula, o espaço, a rotina.
Toda criança, seja qual for sua história e sua idade, passará pelos primeiros dias de aula e enfrentará as novas demandas. Para algumas delas, o contexto escolar é completamente novo. Até então, elas conviviam exclusivamente com sua família e estavam totalmente asseguradas do espaço e do convívio social com as pessoas às quais já tinham acesso. A entrada na escola proporciona a introdução dessa criança em novos espaços, além de envolvê-la com outras pessoas até então desconhecidas e, principalmente, outras crianças da mesma faixa etária que a dela, com as mesmas facilidades, mas também com as mesmas necessidades; isso, certamente, será de uma riqueza social e pessoal ímpar.
Ao iniciar sua vida escolar, a criança encontra um mundo completamente novo que vai muito além de conhecer um espaço físico inédito. Trata-se de um novo meio social extremamente rico e desafiador para ela, pois terá de aprender a conviver com um ambiente diferente daquele a que estava habituada, apropriando-se de uma nova realidade, com influências, ideias, relações interpessoais, situações de aprendizagem, formas de agir e pensar, oportunidades com as quais ainda não havia se deparado antes ou das quais sequer havia se dado conta da existência. Essa experiência, certamente, promove um crescimento fabuloso do ponto de vista social, emocional e cognitivo, não deixando, porém, de ser um desafio a ser superado por aqueles que a vivenciam.
O desconhecido gera desconforto. A criança que frequenta a escola pela primeira vez vivencia, mesmo que em intensidades diferentes, a ansiedade da separação: ela teme que os pais não voltem para buscá-la e fantasia o abandono. Os pais, por sua vez, também ficam ansiosos para ver qual será a reação do filho em contato com pessoas até então desconhecidas e anseiam para que as suas expectativas em relação ao êxito na adaptação escolar sejam alcançadas. Em suma, o início dessa nova etapa de vida gera inquietação e, certamente, imprime mudanças significativas na vida da criança e de seus familiares, exigindo que todos passem por um processo de adaptação.
Pode-se, a princípio, entender adaptação como o esforço da criança para permanecer bem, durante um período de tempo, num espaço coletivo, repleto de adultos e crianças, diferentes daqueles do espaço familiar a que estava acostumada. No entanto, a adaptação é muito mais do que isso. É um processo de socialização construtivo entre agentes educativos – pais, filhos, professores e instituição. Portanto, o esforço não ocorre apenas por parte da criança: os pais e a escola têm um papel determinante no sucesso desse processo. A tríade família, criança e escola é a prioridade nesse processo, permeado por relações que acontecem de forma ativa e participativa, tendo como foco principal o desenvolvimento do indivíduo.
Essa é uma tarefa complexa para a escola, pois implica atender às demandas de cada criança e lidar com a expectativa de cada família. Para isso, é preciso que haja atenção e respeito à diversidade, pois a forma e o tempo como cada criança inicia sua vida escolar são necessariamente singulares.
Para alguns, rapidamente, a insegurança diante do novo cede lugar a uma experiência excitante e agradável. Junto àqueles que estão encantados com esse início, existem os que choram, que resistem à nova rotina ou que não aceitam a aproximação dos adultos da escola, apresentando a necessidade de vivenciar a adaptação por mais tempo.
Esse é um momento fundamental e delicado que não pode ser considerado como simples aceitação de um ambiente desconhecido e de separação da mãe ou de uma figura familiar. Envolve sentimento de confiança; além de serem acolhidas, as crianças precisam aprender a acolher umas às outras. Pensando nisso, a Móbile organiza-se para que esse período seja o mais tranquilo e seguro para todos. Isso começa já no primeiro contato com a família, antes do início das aulas, quando os pais vêm à primeira reunião e, por meio dela, conhecem a sala de aula, a equipe de profissionais que trabalharão com a criança durante o ano e as professoras, além de contarem com a possibilidade de esclarecer dúvidas, de trocar informações preliminares sobre os filhos e de compartilhar experiências, minimizando angústias que possam influenciar no ingresso à escola.
As crianças são recebidas em um ambiente agradável e acolhedor, com atividades lúdicas e prazerosas, especialmente elaboradas para esse período, que levam em consideração o processo de separação e de construção de novos vínculos vividos pela criança. O processo de adaptação é vivo, se movimenta de acordo com as emoções, sentimentos e percepções de seus protagonistas, o que o torna único. O que chama atenção, o que encanta, o que faz a diferença, o que prende o olhar são sinais que direcionarão o foco da professora na relação com seu aluno.
Ações como sair de um espaço conhecido e seguro, dar um passo à frente e arriscar-se, tendo como companhia o desconhecido para o qual a criança precisa olhar, precisa perceber, sentir e avaliar, levam às mais diferentes reações: permanecer no espaço seguro e protegido, seguir adiante ou desistir e voltar atrás. É a ação coesa e coerente entre pais, escola e professores que favorecerá o êxito em uma nova fase da vida: o “ser” estudante. E, nesse momento da vida, a criança se deparará com duas conquistas fundamentais, entre muitas outras: a independência e a autonomia.