Assembleia do recreio

“Estão correndo muito no pátio!”

“Ih, trombaram no meu lanche! Fiquei sem comida.”

“Todos os 4^os e 5^os anos querem jogar queimada na prainha, e isso não está bom!”

“Só porque eles são maiores, eles podem fazer tudo? Nós também queremos jogar na quadra!”

“Os banheiros estão trancados e não tem ninguém lá dentro. O que acontece?”

“Na fila da cantina, a gente fica muito tempo esperando os pequeninos escolherem o que comer.”

Socializar o espaço escolar e garantir a equidade entre todos que por ali transitam não são tarefas fáceis. As relações que se estabelecem entre as crianças no dia a dia da escola são inúmeras, e impor as regras que organizam a convivência, sem provocar reflexões sobre os princípios que sustentam cada uma delas, não é, efetivamente, o melhor caminho quando se tem por meta a formação de sujeitos autônomos e responsáveis pelas próprias decisões. Sem dúvida, é preciso promover experiências que enriqueçam a visão dos alunos sobre os contextos em que eles estão inseridos, envolvendo-os na construção de regras que atendam à coletividade.

Na Móbile, nossos alunos são convidados, desde pequenos, a refletir sobre formas de convivência que tenham como base o bem comum e o respeito mútuo, tanto no convívio diário quanto em projetos específicos com foco no desenvolvimento moral. Um desses projetos é a Assembleia do Recreio, que envolve todos os alunos do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental I da Escola Móbile. O objetivo dessa proposta é promover um exercício de participação democrática. A partir da discussão coletiva sobre ações que não favorecem o convívio no mesmo ambiente e que, portanto, incomodam muitos, as assembleias criam um espaço cuidadoso e acolhedor para que todos possam explicitar ideias, pontos de vista e encontrar soluções para os problemas levantados.

Em 2017, o projeto das assembleias contemplou encontros temáticos simultâneos, com todas as turmas misturadas, de forma que cada grupo de discussão contasse com representantes do 2º ao 5º ano. O intuito dessa divisão foi garantir que mais alunos pudessem reconhecer demandas e pontos de vista diferentes dos seus. Os temas foram definidos com base no levantamento, realizado pelos alunos, dos problemas enfrentados no recreio. Os itens a seguir apresentam o detalhamento das etapas do projeto:

1. Em aula de Orientação Educacional, os alunos foram convidados a observar o recreio e identificar problemas a serem tratados em grupo.
2. Em seguida, em sala de aula, compartilharam os problemas e suas possíveis soluções.
3. De posse dessas informações, a equipe de Coordenação elaborou um quadro a partir da identificação dos problemas comuns entre as séries, categorizando-os em diferentes tipos.
4. Com base nesse quadro, foi organizada a divisão dos grupos por temas de discussão.
5. Coordenadores, professores e assistentes assumiram o papel de mediadores das discussões nos grupos temáticos e de redatores das propostas apresentadas.
6. Os alunos compartilharam em sala as decisões tomadas nos grupos temáticos:

A partir das discussões feitas em cada grupo, os alunos levantaram propostas de soluções – algumas bastante ilustrativas do trabalho de conscientização coletiva e responsabilização de cada sujeito pela harmoniosa convivência no espaço escolar:

1. Convivência e Respeito:

• Não favorecer comportamentos que gerem brigas (no jogo de queimada: não ficar dizendo que queimou sem ter certeza nem ficar pedindo para voltar a jogada o tempo todo);
• Resolver um conflito apenas falando, sem gritar;
• Pedir licença para circular pelos espaços;
• Uma aula de Orientação Educacional com exercícios de respiração e relaxamento;
• Se for provocado(a), dizer ao(à) colega que não gostou da atitude dele(a) e comunicar o fato a um adulto;
• Um amigo ajudar o outro.

2. Desrespeito às regras dos espaços coletivos:

• Fazer um cartaz que chame a atenção, em vez de um texto grande que ninguém vai parar para ler;
• Quanto ao desrespeito da tranca da porta do banheiro: fazer outro sinal indicando que o banheiro está sendo usado (além da sinalização vermelha);
• Colocar mais “mochilódromos” pela escola, principalmente perto da quadra;
• Organizar uma fila para pegar os brinquedos (a assistente deve ficar fora do quartinho para ajudar com a organização);
• As próprias crianças devem fazer as intervenções quando elas perceberem que um combinado  esteja sendo descumprido.

3. Divisão dos espaços:

• Dividir o espaço com cones (“paredão”).
• É importante deixar uma marcação para que as pessoas possam passar durante o jogo (hóquei).
• Organização do uso da Quadra da Visconde:
  • 2ª-feira – 2º ano;
  • 3ª-feira – 3º ano;
  • 4ª-feira – 4º ano;
  • 5ª-feira – 5º ano;
  • 6ª-feira – livre.
  • Quando houver feriado, a série que perdeu a quadra terá direito a usá-la numa sexta-feira, como reposição.