Cinema e Saber: o papel do humor
3 de junho de 2020
Na segunda edição do ciclo Cinema e Saber durante o período de afastamento social, os professores Rodrigo Mendes e Teresa Chaves convidaram os alunos do Ensino Médio para uma conversa virtual sobre o documentário O riso dos outros (2012), de Pedro Arantes. Mesmo nestes tempos difíceis, tanto os professores quanto os alunos estão tentando manter ativa a Agenda Cultural do Ensino Médio, que envolve filmes, documentários, séries e palestras, para continuar ampliando seu repertório pessoal e discutindo questões importantes da contemporaneidade.
Nessa agenda, discutimos nosso comportamento diante de piadas de diversas temáticas e a questão do limite do humor. Aprendemos que o humor revela muito sobre nós mesmos. O riso, imediato e incontrolável, tem a capacidade de expor até mesmo questões que preferimos esquecer, mas que dizem muito sobre como enxergamos o mundo. Não são raros, no documentário, os momentos de desconforto após nos flagrarmos rindo de piadas que consideramos imorais ou ofensivas e, ainda assim, engraçadas.
Esse riso imediato é algo que as redes sociais têm o poder de esconder. Em uma conversa de WhatsApp ou até mesmo em tweets, frequentemente não é possível saber a reação de alguém ao ver uma postagem. Podemos escolher não manifestar nossas reações e possíveis indignações, o que, no caso de piadas ofensivas, pode fazer com que elas se perpetuem pela internet sem interrupção. Muitas vezes subestimamos as dimensões de discursos que atacam grupos sociais marginalizados, mas a palavra é um instrumento de poder e tem a capacidade de promover violência, especialmente em um país tão estruturalmente desigual como o Brasil.
Durante nossa conversa, discutimos muito sobre os alvos das piadas, que tocam, geralmente, em estereótipos e preconceitos disseminados socialmente. Chegamos à conclusão consensual de que o humorista, exercendo a sua liberdade de expressão, escolhe o que falar e não pode se isentar da culpa de estar possivelmente promovendo a violência contra minorias sociais. Entretanto, o público também tem grande participação nisso e é responsável pela resposta à piada. O humorista molda o seu trabalho de acordo com aquilo que entretém o público, e, se este ri de assuntos sensíveis, tais assuntos tornam-se um potencial instrumento para o comediante.
Todavia, cabe refletir: se toda piada tem um alvo e em qualquer circunstância alguém pode se sentir ofendido, então não podemos mais fazer nenhuma piada? Qual é o papel das leis e do Estado quando se trata de conflitos morais e de questões altamente subjetivas? Mergulhamos em um debate envolvendo a esfera política e o liberalismo, o qual concluímos sem consenso e com muito para pensar.
Outro caminho tomado pela discussão tocou no uso do humor para tratar de nossos sofrimentos e até mesmo de características pessoais com as quais não estamos satisfeitos. Porém, tal recurso pode vir a se tornar prejudicial quando passamos a tratar de assuntos importantes para a saúde mental com negligência e de forma ineficiente, apenas escondendo questões mais profundas de nossas vidas.
Larissa Werther e Emília Fonseca são alunas do 3º ano do Ensino Médio.