Construir uma cidade ideal
29 de novembro de 2018
“Construir” uma cidade ideal nas aulas de Orientação Educacional do 6º ano: um exercício para reflexão sobre valores? Uma oportunidade para confrontar idealizações com a realidade? Um trabalho em grupo que requer planejamento?
Propor às crianças que reflitam e pesquisem a respeito de elementos de urbanização, e planejem uma cidade ideal e possível foi uma atividade desenvolvida com as turmas de 6º ano, ao longo do 2º semestre, nas aulas de Orientação Educacional.
Não seria uma proposta mais pertinente ao curso de Geografia ou de Artes Visuais? O que essa temática poderia reunir de reflexões acerca dos assuntos contemplados nas aulas de Orientação Educacional, tais como a convivência escolar e o planejamento dos estudos, bem como os impasses que os estudantes experimentam no dia a dia? Essas poderiam ser algumas das indagações construídas pelo leitor deste texto ao se aproximar da proposta de trabalho apresentada.
Ao desenvolvermos este projeto, tínhamos como ideia central estimular as crianças a pensarem sobre um espaço de habitação que reunisse alguns princípios e condições: que fosse um espaço equilibrado para todos os habitantes e que fosse ideal, mas também possível. Queríamos, por meio desta discussão e deste projeto, estimular a reflexão, favorecer a elaboração de ideias, tendo em vista a sua aplicação concreta, e possibilitar aos jovens a “arquitetura” de princípios capazes de reger uma convivência saudável, tendo como referência uma cidade. Ventilar essas elaborações e, em uma etapa posterior, transpô-las para a realidade escolar seria, sem dúvida, o intuito e o exercício central do projeto. Além desse aspecto, mobilizar as crianças para que efetivamente refletissem, buscando minimizar problemas, para que projetassem, para que trabalhassem em grupo e para que, finalmente, “construíssem” uma cidade baseada nas discussões realizadas foram os intuitos desta atividade.
Assim, iniciamos nossas conversas levantando os problemas que observamos em nossa cidade. Cabe destacar que fomos impactados pelo alto nível de informação e de sensibilidade com que os pequenos jovens transcorrem sobre temas complexos e importantes de nossa cidade. Foi possível observar também sua grande capacidade de projetar soluções muito competentes para os grandes desafios urbanos que vivenciamos. Certamente, o Projeto “Um olhar investigativo sobre a cidade de São Paulo”, ou, Projeto São Paulo, foi de suma importância para que os alunos tivessem referências e repertório concretos sobre o tema.
Após este levantamento, discutimos quais seriam os valores da cidade. O que seria importante garantir como princípios que conduziriam as propostas dos diferentes grupos no planejamento do espaço urbano? A questão lançada nas turmas foi a seguinte: “Quais seriam os quatro princípios básicos da cidade para que ela fosse de fato uma cidade saudável para todos os habitantes?” De maneira geral, os estudantes abordaram aspectos como o direito de viver de maneira segura, a justiça, o respeito e a igualdade, citando ainda responsabilidade, felicidade, gentileza, conhecimento e “mais pelo ser e menos pelo ter” como referências importantes para o projeto urbano.
A etapa seguinte do trabalho teve como objetivo enriquecer o universo das crianças para que pudessem incrementar o projeto que iriam desenvolver. Os estudantes foram orientados a pesquisar os elementos que compõem o espaço urbano, bem como experiências de sucesso desenvolvidas na nossa cidade e em outras localidades. Alguns dos estímulos propostos que orientaram os estudos:
- Como funciona o programa Yellow das bicicletas? E os patinetes elétricos? Como funcionam os metrôs e trens de Tóquio que diariamente transportam multidões?
- Como é o sistema educacional da Finlândia, de Cingapura e da cidade cearense de Sobral?
- E o sistema de saúde? Teríamos modelos mais eficientes adotados em outros países?
- Polos industriais: como se organizam? Teriam alguma política que minimizasse a emissão de poluentes? Que tipo de energia menos agressiva ao meio ambiente poderiam utilizar?
- O que é um cinturão verde? Como podemos reaproveitar espaços urbanos – por exemplo, as lajes de shopping centers, canteiros e jardins – para a produção de alimentos?
Os grupos se dividiram por temas de interesse, realizaram suas pesquisas e apresentaram seus trabalhos para toda a classe. Munidos de informações e de muitas ideias, foram colocar em prática seus projetos. Integrantes de cada uma das pesquisas compuseram um novo agrupamento para implementarem o que haviam planejado e construírem seus centros urbanos. Talvez esta etapa do projeto tenha sido um dos momentos mais estimulantes e “movimentados”: papéis coloridos, canetas e lápis de cor associados a muita criatividade e risos percorreram as aulas de Orientação Educacional.
Após a construção e apresentação de cada uma das cidades, fizemos uma votação na qual os estudantes escolheram, em suas turmas, a cidade que seria a “mais ideal e mais possível”.
Abaixo, apresentamos as fotografias das cidades vencedoras.
Esperamos, com isso, poder despertar alguns possíveis “arquitetos” para que, no futuro, projetem não apenas cidades, edifícios e moradias, mas também espaços de contentamento, convivência, humanidade e esperança.