A contemporaneidade de Galileu

26 de abril de 2016


Em março, diversos alunos do Ensino Médio foram assistir à peça Galileu Galilei no TUCA, teatro da PUC. O espetáculo, que é uma montagem do texto de Bertold Brecht, tem direção de Cibele Forjaz e atuação de Denise Fraga interpretando Galileu. Após a encenação, os alunos ainda participaram de um debate com os atores, fechando o ciclo com interessantes discussões.

A peça narra a história do físico italiano Galileu Galilei, que, no século XVII, defendeu que a Terra girava em torno do Sol. A partir dessa descoberta, o cientista propõe o modelo Heliocêntrico, contrário àquele defendido pela Igreja Católica, segundo o qual o universo giraria em torno da Terra. Por conta disso, passa a ser perseguido pela Santa Inquisição e é obrigado a abjurar suas ideias. A montagem de Denise Fraga apresenta essa história de forma poética e humorística. A peça ao mesmo tempo diverte e suscita reflexões nos espectadores.

O texto de Brecht, originalmente intitulado A Vida de Galileu, foi escrito entre as décadas de 1930 e 1940 na Alemanha, em um contexto de ascensão nazista – regime ao qual Brecht era absolutamente contrário. Por conta disso, a peça traz uma relevante reflexão sobre a relação entre ciência, sociedade e política, além de um debate sobre a opressão, seja da Santa Inquisição, do Totalitarismo Nazista ou dos dias atuais. Galileu é representado como um homem repleto de contradições: por um lado, ele quer se manter fiel a seus ideais, mas, por outro, busca enriquecer a qualquer custo e se tornar reconhecido por seu povo. Além disso, diante da ameaça de tortura por parte da Santa Inquisição, ele rapidamente nega suas descobertas. Já em prisão domiciliar, porém, o físico encontra um meio de enganar a Igreja e perpetuar suas descobertas científicas, naquela que viria a ser sua obra mais importante, Il Discorsi. Essa temática, por mais que se relacione diretamente com o contexto do século XVII, é absolutamente atemporal, porque permite que muitos espectadores, hoje ou ontem, estabeleçam pontes entre os dilemas de Galileu e seus próprios.

Tal atemporalidade é destacada em diversas passagens da montagem encenada no TUCA. Em dado momento, por exemplo, os atores fazem uma crítica explícita ao atual momento político brasileiro, por meio de uma referência irônica a um “panelaço”. No debate com os atores, como não poderia deixar de ser, o tema da relação entre a história de Galileu e os dias atuais foi um dos mais discutidos. Quanto a isso, Denise Fraga tem uma interessante opinião: para a atriz, “somos todos Galileu”, ou seja, todos nós, em alguma medida, vivemos um conflito interno entre manter-nos firmes a nossos ideais ou cedermos diante das dificuldades de pô-los em prática.

O espetáculo Galileu Galilei não foi só a representação teatral da vida de um dos maiores cientistas da humanidade. Mais do que isso: tal experiência serviu para ampliar o repertório cultural de nós, alunos, ao mesmo tempo que suscitou pertinentes questionamentos sobre o nosso próprio modo de vida.

Pedro Sant’Anna e Pedro Expósito são alunos do 3º ano do Ensino Médio.