Em debate: Trabalho Escravo
19 de setembro de 2018
No fim do primeiro semestre, Thiago Reis Corte, o repórter e editor do portal G1, esteve na Escola Móbile para conversar com os alunos do 7º ano sobre a existência de brasileiros que ainda são submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão. Autor de reportagens premiadas internacionalmente, o palestrante compartilhou as experiências que vivenciou durante suas investigações e, também, as estratégias utilizadas na divulgação do material coletado nos 315 relatórios de fiscalização dos anos de 2016 e 2017.
A atividade teve como principal objetivo ampliar o repertório de conhecimento dos estudantes sobre o assunto, considerando que eles participariam de uma série de debates a respeito da mesma temática ao final do semestre. Tal estratégia didática evidencia uma concepção de ensino a partir da qual se entende que os aspectos polêmicos inerentes aos temas sociais possibilitam o trabalho com a argumentação, capacidade relevante para o exercício da cidadania, desenvolvida por meio da análise das formas de convencimento empregadas nos textos que circulam na esfera pública, do reconhecimento da intencionalidade da orientação argumentativa sugerida, da identificação dos conflitos sociais e do tratamento dessas informações apresentadas, por exemplo, em uma reportagem de forte cunho social e investigativo, como a que foi escrita por Corte.
Além de promover a reflexão sobre o trabalho escravo, compartilhar com os alunos a rotina característica do fazer jornalístico permitiu que eles se deparassem com as dificuldades e os desafios profissionais de Thiago Corte para conseguir coletar dados, formular hipóteses, verificar e relacionar informações, produzir conclusões para, finalmente, comunicar o que descobriu por meio da premiada reportagem Escravos sem correntes: 14% dos trabalhadores resgatados no país são encontrados com restrição de liberdade. Essas ações jornalísticas investigativas se assemelham aos procedimentos realizados por uma metodologia científica de pesquisa que pode ser aplicada quando o educando é o protagonista da situação de aprendizagem.
Nas aulas seguintes à palestra, esse protagonismo foi exercido pelos alunos do 7° ano ao longo do processo de pesquisa e formulação de argumentos, etapas preparatórias, e, principalmente, durante a participação no debate cujo tema foi O que é o trabalho escravo?. A reflexão sobre o conteúdo foi baseada, por exemplo, no artigo 149 do Código Penal Brasileiro, criado em 1940 e colocado em vigor em 1942, em comparação à Lei Áurea de 1888, a qual aboliu formalmente o trabalho escravo no Brasil. Além disso, os estudantes identificaram preceitos defendidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
A partir dessa atividade oral e argumentativa, os alunos julgaram situações sociais reais com base em argumentos que foram expostos ao grupo. Ao final, todas as colocações eram consideradas para que se chegasse a um veredito sobre o caso analisado, caracterizando-o ou não como trabalho escravo. Durante o debate, esses papéis preestabelecidos em aula foram desempenhados pelos alunos: juiz do trabalho, relatores, debatedores, assessores, imprensa, semelhantemente a um tribunal real.
A partir da palestra, os estudantes aprofundaram seus conhecimentos a respeito do principal tema debatido nas aulas de História durante o 2º bimestre – A importância da escravidão na formação do sistema colonial estabelecido no Brasil. Além disso, essa atividade inicial também permitiu ao professor promover reflexões em sala de aula sobre a relação entre a História do Tempo Presente e o Passado brasileiro, incentivando os alunos a identificar traços de permanências e rupturas. Esse aprofundamento conceitual, planejado por meio de diferentes estratégias de apreensão do conhecimento, representa uma metodologia em que o ato de estudar é composto por uma gama de atividades diversificadas – entre elas, aulas expositivas, palestra, trabalho em grupo e debate.