“Ensaio sobre a cegueira”

4 de março de 2020


Uma misteriosa epidemia se espalha pelo mundo. Temeroso, o governo decide confinar os contaminados. O medo torna as pessoas cegas, e a cegueira só aumenta o desespero.

As sentenças anteriores até poderiam se referir a notícias atuais, relativas ao coronavírus (COVID-19), por exemplo. No entanto, dizem respeito ao conflito vivido pelos personagens de Ensaio sobre a cegueira, romance do escritor português José Saramago. Por proporcionar um profícuo diálogo entre a Literatura e a Filosofia, esse livro foi adotado como a primeira obra do programa de leitura do curso de Estudos Literários do 2º ano. Após terem lido e discutido aspectos do romance, alunas e alunos foram convidados a assistir, no ciclo Cinema e Saber, à adaptação cinematográfica da obra, dirigida por Fernando Meirelles.

Cerca de 90 jovens se reuniram no auditório da escola para a exibição do longa-metragem, seguida de um debate mediado pelos professores Felipe Teixeira (Filosofia) e João Cunha (Estudos Literários). Parte do debate foi dedicada à discussão da adaptação da obra para as telas de cinema. As perdas e os ganhos no confronto entre a linguagem literária e cinematográfica, os recursos de sonoplastia, trilha sonora, iluminação e fotografia e até mesmo as escolhas dos atores e das locações por Fernando Meirelles foram analisados de forma perspicaz por nossos estudantes.

O debate tocou, ainda, em questões temáticas e contextuais. Marcado pela mesma aridez e violência presentes no livro, o filme fomentou reflexões bastante densas sobre problemas com os quais nos deparamos todos os dias em nossa rotina na metrópole paulistana: o medo do outro, a solidão, a descrença nos políticos, o machismo, as mais variadas formas de violência.

Segundo o próprio autor, em depoimento na apresentação pública de seu romance, a intenção da obra era mostrar “que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”. Sem dúvida, a discussão interdisciplinar provocou nossos jovens a refletir sobre esse processo de desumanização, vivido, contemporaneamente, no mundo todo.

Professores Felipe Teixeira e João Cunha