Manifestos: da palavra à ação

28 de outubro de 2012


Nos 90 anos da Semana de Arte Moderna, evento cujos frutos até hoje reverberam no cenário artístico brasileiro, cumpre realizar um retorno àquela que seria a marca essencial dos artistas que dela fizeram parte: a capacidade de ousar e de quebrar paradigmas para expressar, à força da rebeldia ou do choque, a modernidade que chegava até nós. Naqueles dias de fevereiro de 1922, a música de Heitor Villa-Lobos, a escultura da Victor Brecheret, a pintura de Anita Malfatti e os versos de Oswald e Mário de Andrade surgiram como uma forma de rever, esgarçar e negar os valores culturais, sobretudo os europeus, assentados entre a nossa gente. Das terras do Pau-Brasil, surgia, com contornos mais nítidos, o Brasil, terra de pretos, índios, brancos e mestiços, do samba, do xote e do xaxado, iluminado pelos postes da Light e pelas fogueiras de São João.

Nesse movimento de recusa e de construção de identidade, fundamental foi o papel dos manifestos da Poesia Pau-Brasil, do Verde-Amarelismo e Antropofágico. Embebidos pelos certames dos Manifestos Futurista, de Marinetti; Cubista, de Apollinaire; e Surrealista, de André Breton, que, na Europa, inspiraram Fernando Pessoa, Pablo Picasso e Salvador Dalí, os manifestos aqui surgidos, a um só tempo, delinearam as linhas mestras de cada uma das vertentes estéticas e propuseram novos rumos para as artes. Não apenas isso, trouxeram à consciência os valores daquela sociedade, sendo documentos de precioso valor artístico e histórico, que desenham, com contornos nítidos, o Brasil daquele já longínquo século XX, com o qual, incomodamente, ainda dialogamos.

Pensando na importância desses textos como veículos de expressão dos modos de pensar, agir e de intervir na realidade social, convidamos os alunos do 1º e do 2º ano do Ensino Médio a também produzirem seus manifestos, provocando-os a mostrarem abertamente seus pensamentos, incômodos e desejos.

Do resultado do convite, surgiram textos que combinam, em um mesmo movimento, coragem e personalidade na apropriação do conhecimento e em sua utilização. Estes manifestos, acreditamos, são um meio não só para conhecer o que querem e o que pensam os nossos jovens, mas também terreno fértil para reflexões e ações sobre o novíssimo século XXI.

Camile Tesche

Professora de Língua Portuguesa
de 1º e 2º ano do Ensino Médio