Margem de Liberdade
28 de outubro de 2012
Os anos 1970 foram, como se sabe, de bastante agitação política. No Brasil, destacam-se, é claro, os movimentos contra a ditadura militar. Mas em meio a tanta repressão e censura, práticas que estavam no bojo desse sistema político, que espaço haveria para a literatura?
Mudar a poesia de lugar e libertá-la! Era esse o mote da geração conhecida como “Geração Mimeógrafo”, em referência ao modo como distribuíam seus poemas, tomando as esquinas e os bares cariocas de assalto, num turbilhão cultural.
Também conhecidos como poetas marginais – uma vez que se encontravam à margem da situação vigente e do processo editorial que só aceitava a obra de escritores renomados –, nomes como Ana Cristina César, Chacal, Cacaso, Francisco Alvim e Charles Peixoto não possuíam necessariamente uma mesma estética. O que os unia era a postura vigorosa e transgressora, já que nem mesmo um “Manifesto da Poesia Marginal” chegou a existir.
Nesse sentido, a Poesia Marginal é herdeira inconteste da Semana de 22 e de um dos seus principais nomes: Oswald de Andrade. O coloquialismo, a mescla com a tradição popular (nos anos 1970, a cultura pop vem se somar a isso), o poema piada, a síntese de linguagem e, sobretudo, o caráter libertário são características que aproximam, na forma e na postura, dois lirismos separados, no espaço, por meio século.
Chacal, em seu poema “Helpless”, diz que “a língua é boa solta, fazendo escarcéu da sua boca”, e não encarquilhada e empoeirada dentro da gaveta. Os alunos do 9º ano aceitaram esse desafio e vieram para dar a sua cara e o seu lirismo “a tapa”, estampando no peito o resultado poético e imagético de seus estudos sobre Poesia Marginal e a Semana de 22.
Rogério Viana Gusmão
Professor de Língua Portuguesa
do 9º ano do Ensino Fundamental