“Nossa classe”: um alerta para a intolerância
16 de maio de 2016
Não poderia ter vindo em hora mais oportuna o espetáculo Nossa Classe, ao qual os alunos do 3º ano do Ensino Médio da Móbile tiveram o prazer de assistir no dia 8 de abril. Dirigida por Zé Henrique de Paula, a peça teve a astúcia de manusear eventos passados de modo a torná-los próximos da plateia, provocando e emocionando fortemente os alunos e professores presentes no teatro.
Com um cenário minimalista composto por lousas e cadeiras, a montagem remonta de forma surpreendentemente imersiva à história de Jedwabne, na Polônia. Esse pequeno povoado sofreu fortes impactos no decorrer da Segunda Guerra Mundial. A peça tem como foco um grupo de alunos poloneses, divididos entre judeus e católicos, cujas histórias desenvolvem-se no que o diretor chamou de “uma fatia de tempo”, em que se deram as invasões por parte da União Soviética e do Exército Nazista, consecutivamente. Nossa classe demonstra como tais eventos impactaram a vida de cada um dos alunos, ao moldarem suas percepções e convicções quanto ao papel que desempenham em relação aos demais.
Abordando questões como o sentimento de superioridade em relação a um grupo perseguido, a preocupação e identificação com assuntos políticos na juventude e a impossibilidade da manutenção de uma amizade entre as personagens na medida em que crescem, a peça instiga reflexões muito atuais e significativas, que podem trazer para o presente uma discussão vital sobre tolerância e aceitação de diferenças.
Muito bem alinhada ao contexto político conflituoso da atualidade, no qual nos deparamos constantemente com cenários de bipolaridade e com a falta de debates realmente democráticos e inclusivos entre partes divergentes, a peça se encaixa como um modo de refletir sobre as consequências que essa intolerância teve no passado. Escancara o horror causado pelo autoritarismo, que foi capaz de coibir uma população a voltar-se contra si mesma e dividir-se nos grupos de violentos e de violados por meio do esquecimento do que no passado os havia unido. Assim, a peça nos alerta para um cenário que, como apontou a atriz Estrela Strauss, que interpreta de forma intensa e emocionante a personagem Dora, está mais próximo do que gostaríamos de acreditar.
O debate com os atores, que ocorreu após o espetáculo, foi igualmente enriquecedor. Repleta de falas que tornaram ainda mais clara essa proximidade, a conversa acabou por ser, também, extremamente emocionante, com relatos de alunos judeus da Móbile, que revelaram saber mais de perto o quão perigosa pode ser a intolerância e o quão fundas podem ser as suas marcas. Seja no presente ou no passado, a necessidade urgente por compreensão das diferenças e tolerância aos demais se mostrou ainda mais evidente.
Fernanda Brant de Carvalho Dauden é aluna do 3º ano do Ensino Médio.