O impacto da escravidão na formação do Brasil

6 de junho de 2016


“Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão”

(Caetano Veloso, “13 de maio”)

Em 14 de dezembro de 1890, Ruy Barbosa, o então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, assinou um despacho que autorizava queimar “todos os papéis, livros de matrícula e documentos relativos à escravidão, existentes nas repartições do Ministério da Fazenda”. Segundo ele, “a nação brasileira” precisava eliminar “do solo da pátria a escravidão”. Vale lembrar que fazia dois anos que a Princesa Isabel havia assinado a Lei Áurea, que decretava a abolição da escravidão no Brasil. Todavia, a memória do sistema nefasto estava impregnada na sociedade e, particularmente, nos corpos, nas cabeças e nas histórias de milhares de pessoas que haviam sido alforriadas no dia 13 de maio de 1888, mas que tinham poucas perspectivas a partir de então.

O decreto que previa apagar dos arquivos os vestígios do escravismo brasileiro – o último sistema a se desmantelar nas Américas – foi duramente criticado à época e segue criticado até hoje. A destruição dos documentos, no entanto, não impediu que histórias da escravidão fossem construídas e estudadas. E foi na tentativa de analisar o escravismo na formação do Brasil, entre os séculos XVI e XIX, que promovemos no dia 13 de maio uma palestra com o Prof. Dr. Alberto Luiz Schneider, do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

No evento, o professor retomou os números do tráfico humano iniciado em meados do século XVI e encerrado em fins do XIX. Em mais de três séculos, foram 5 milhões de africanos traficados para o Brasil. Milhares de seres humanos expatriados ou já nascidos na terra foram escravizados. Ao retomar esses números, Schneider analisou a dinâmica do tráfico associado às demandas da economia colonial. Debateu as diferentes estratégias de resistência e de repressão. Enfatizou o papel das alforrias, inseridas na dinâmica das relações de poder entre senhores e escravos. Por fim, o professor contextualizou a crise do regime escravocrata e a oposição de alguns setores da elite, que pretendiam manter a todo custo seu “plantel de cativos”. Ao final, os alunos levantaram questionamentos relacionados aos legados da escravidão africana em nossa sociedade, relacionando aspectos do passado ao presente, a exemplo da exclusão e do preconceito racial ainda muito fortes no Brasil.

Embora Ruy Barbosa tenha conseguido queimar os documentos existentes no Ministério da Fazenda, entre 1890 e 1891, permaneceram informações de arquivos da justiça, jornais, testamentos de senhores, relatos orais e outras fontes que têm possibilitando a construção de diferentes narrativas históricas sobre uma das páginas mais vergonhosas do nosso país: a escravidão. E, de posse dessas narrativas, seguimos debatendo esses e outros temas com os nossos alunos.

Márcia Santos é professora de História do Ensino Médio.