O papagaio como animal de estimação: qual é o problema?

2 de março de 2021


Em tempos de pandemia, sabemos bem como é difícil ficar confinado. Imagine como é a experiência de um papagaio, confinado em uma gaiola a vida toda. Ainda mais se considerarmos que esse animal, em ambientes naturais, é capaz de voar 40 quilômetros ao longo de um único dia. Você conhece alguém que tenha um papagaio? Para cada papagaio criado como pet na cidade de São Paulo, quantos animais foram capturados ilegalmente e mortos? Muitos!

Em uma videoconferência, a Dra. Juliana Machado, bióloga e diretora da Freeland Brasil, apresentou aos nossos alunos do Ensino Médio o problema do tráfico de animais. Em 2018, segundo ela, a Polícia Ambiental do Estado de São Paulo apreendeu mais de 6500 canários-da-terra (Sicalis flaveola) e, entre 2017 e 2019, mais de 3 mil papagaios. Todos esses indivíduos deixaram de desempenhar inúmeras funções ecológicas em seus respectivos ambientes naturais, como, por exemplo, a dispersão de sementes.

A especialista destacou que, entre as consequências desse tipo de crime, está a transmissão de doenças para os seres humanos, como a psitacose, uma grave pneumonia causada por uma bactéria proveniente de papagaios e araras.

Outro problema, de acordo com a bióloga, é o sofrimento animal. Além dos métodos violentos de captura, os animais são transportados em condições extremamente prejudiciais para a sobrevivência deles. Quando sobrevivem e são liberadas em ambientes em que não são nativas, essas espécies animais podem se tornar espécies invasoras, um problema ambiental muito grave para a diversidade. Esse é o caso, por exemplo, do sagui-do-nordeste, que compete e dizima as populações nativas da região Sudeste brasileira.

A pesquisadora afirmou, ainda, que esse tipo de atividade criminosa, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), está intimamente ligado à corrupção e ao tráfico de drogas e de armas pelo planeta. Ela destacou, inclusive, que muitos criadores legalizados “esquentam” os registros de animais capturados ilegalmente em ambientes naturais, ou seja, mentem dizendo que esses animais nasceram em criadouros.

Ainda que ações policiais e o conhecimento científico estejam sendo utilizados para combater estratégias criminosas, cabe ao cidadão assumir sua responsabilidade e entender que não é inofensiva a aquisição de um animal silvestre para tratá-lo como pet.