O processo de adaptação

26 de março de 2020


O ingresso na escola é considerado um dos marcos mais significativos de separação entre crianças e pais. Toda criança, seja qual for sua história, idade ou cultura, terá de passar pelos primeiros dias de aula e enfrentará os novos desafios que essa fase proporciona.  

A escola é o espaço em que as crianças, possivelmente, vivenciarão situações em que entrarão em contato com valores e culturas diferentes daquelas em que foram criadas. Sendo assim, afastar-se do aconchego do lar e enfrentar o desconhecido significa um grande salto na vida de qualquer criança. Quando se trata da adaptação na Educação Infantil, há que se ter ainda mais cuidado, pois serão momentos delicados e marcantes tanto na vida das crianças como na de seus pais, marcados por encontros ‒ e alguns desencontros também , período em que os pequenos passam a estabelecer novos vínculos afetivos com um novo grupo, com as professoras, fundamental para que construam, aos poucos, um mundo social mais amplo.  

Esse novo meio social é extremamente rico e desafiador para a criança, que terá de aprender a conviver com um ambiente diferente daquele com que estava habituada, apropriando-se de uma nova realidade, com influências, ideias, relações interpessoais, situações de aprendizagem, formas de agir e pensar, oportunidades com as quais ainda não havia se deparado ou sequer se dado conta da existência delas. Essa experiência, certamente, promove um crescimento fabuloso do ponto de vista social, emocional e cognitivo, não deixando, porém, de ser um desafio a ser superado por aqueles que a vivenciam.  

Até este momento, algumas crianças conviviam exclusivamente com sua família e estavam totalmente seguras em seu espaço e no convívio social com as pessoas com as quais já tinham contato. A inserção no ambiente escolar proporcionará a introdução dessas crianças em novos espaços, além de envolvê-las com outras pessoas até então desconhecidas e, principalmente, com outras crianças da mesma faixa etária que as delas, com as mesmas facilidades, mas também com as mesmas necessidades e desafios a serem superados, e isso certamente será de uma riqueza social e pessoal ímpar para todas.  

O desconhecido gera desconforto. A criança que frequenta a escola pela primeira vez vivencia, mesmo que em intensidades diferentes, a ansiedade da separação; ela teme, por exemplo, que os pais não voltem para buscá-la e fantasiam o abandono. Os pais, por sua vez, também ficam ansiosos para ver qual será a reação dos filhos em contato com pessoas até então desconhecidas e anseiam para que as suas expectativas em relação ao êxito na adaptação escolar das crianças sejam alcançadas.  

Pode-se, a princípio, entender adaptação como o esforço da criança para permanecer bem, durante um período, num espaço coletivo, repleto de adultos e crianças, diferentes daqueles do espaço familiar a que estava acostumada. No entanto, a adaptação é muito mais do que isso. É um processo de socialização construtivo entre pares educativos – pais, filhos, professores e instituição. Portanto, o esforço não ocorre apenas por parte da criança: os pais e a escola têm um papel determinante no sucesso desse processoA tríade família, criança e escola é a prioridade nesse processo que é permeado por relações que acontecem de forma ativa e participativa, tendo como foco principal o desenvolvimento da criança.  

Para alguns, rapidamente, a insegurança diante do novo cede lugar a uma experiência excitante e agradável. Convivendo com aqueles que estão encantados com esse início, existem os que choram, os que resistem à nova rotina ou os que não aceitam a aproximação dos adultos da escola, apresentando a necessidade de vivenciarem o período de adaptação por mais tempo.  

Além de serem acolhidas, as crianças precisam aprender a acolher umas às outras, processo fundamental a ser construído e mediado por todos os adultos que convivem, interagem e atuam na dinâmica educacional.  

O processo de adaptação é vivo, movimenta-se de acordo com as emoções, sentimentos e percepções de seus protagonistas, e é isso que o torna único. O que chama atenção, o que encanta, o que faz a diferença e o que prende o olhar são sinais que direcionarão o foco do educador na relação com seu aluno. Esse contato é dinâmico, único, sutil, ocorre por meio de um olhar, num toque, numa palavra, por meio da brincadeira, do jogo, do faz de conta.  

Participar do processo de adaptação é estar totalmente imerso nele, contagiar-se com suas emoções sem perder o foco.  

É a ação coesa e coerente entre pais, escola e professores que promove o êxito nesta nova fase da criança  o “ser” estudante. E, nesse momento da vida, ela se depara com duas conquistas fundamentais, entre muitas outras: a independência e a autonomia.