Paisagem sonora
20 de maio de 2019
“Abre-te, ouvido, para os sons do mundo, abre-te ouvido, para os sons existentes, desaparecidos, imaginados, pensados, sonhados, fruídos! Abre-te para os sons originais, da criação do mundo, do início de todas as eras… Para os sons rituais, para os sons míticos, místicos, mágicos. Encantados… Para os sons de hoje e de amanhã. Para os sons da terra, do ar e da água… Para os sons cósmicos, microcósmicos, macrocósmicos… Mas abre-te também para os sons de aqui e agora, para os sons do cotidiano, da cidade, dos campos, das máquinas, dos animais, do corpo, da voz… Abre-te, ouvido, para os sons da vida…”
Durante o 1º trimestre, as crianças do 1º ano da Escola Móbile entraram em contato com um tema totalmente novo para elas: a paisagem sonora. Desenvolvido pelo canadense Murray Schafer, o conceito diz respeito à percepção do ambiente acústico em que vivemos. Trata-se de um convite para percebermos o mundo de outra forma, com atenção aos sons que nos cercam e de forma a buscarmos sutilezas sonoras que estão presentes em nosso dia a dia.
As propostas de sensibilização para essa temática foram muito variadas: iam desde uma folha de jornal passada por cada um dos colegas sem emitir som algum, passando por leitura de poesias, até um passeio dentro da própria escola.
Paralelamente ao trabalho de percepção de sutilezas sonoras, as crianças foram convidadas a perceber esses sons como música e a fazer pequenos trabalhos de criação a partir deles: fizeram pequenas composições com folhas de jornal, sapatos, objetos cotidianos, voz e alguns instrumentos musicais – sempre inspirados nos sons da paisagem sonora.
Como grande fonte de inspiração, realizamos, no 1º trimestre, nossas saídas pedagógicas. As turmas da manhã foram a uma feira livre e as turmas da tarde, a uma praça. A feira, além de cheiros, cores e sabores que traz consigo, apresenta também um mundo de sons: os sons das frutas sendo cortadas, das sacolas, das vozes das pessoas conversando e dos cantos de trabalho. Quem nunca foi à feira e ouviu algo como “olha a laranja, fresquinha” de forma ritmada e melódica? O encerramento dessa saída pedagógica se deu com as crianças experimentando algum alimento típico da feira e sendo convidadas a ouvir sua sonoridade – os alimentos escolhidos foram a maçã e o “pastel de vento”, ambos bastante sonoros ao comer!
Na praça, as crianças entraram em contato com sons de outra natureza: pássaros, fontes, tráfego de carros. Experimentaram pisar em alguns elementos para ouvir seus diferentes resultados sonoros: pedrinhas, terra, folhas secas… Ouviram latidos, sirenes de polícia e também sons de brinquedos da praça e de crianças! Ao final, as crianças puderam se deliciar brincando em balanços, escorregador, casinha e outros brinquedos que a praça dispunha.
Foram experiências bastante enriquecedoras que certamente ficarão marcadas na memória e no coração dos nossos pequenos!