Palestra sobre Mariana e Brumadinho promove reflexão sobre problemas atuais

10 de abril de 2019


Os estudantes de 7° a 9° ano do Ensino Fundamental II participaram da palestra Mariana e Brumadinho: um breve panorama, ministrada pelo professor de Geografia Douglas Scaramussa no auditório da Escola Móbile em 21 de fevereiro. Com o objetivo de informar e refletir sobre questões contemporâneas a partir da discussão acerca de temas variados, essa foi a primeira palestra de outras previstas para 2019.

A barragem de rejeitos da Vale se rompeu em Brumadinho (MG) no dia 25 de janeiro. Seja por ter se configurado como uma das maiores tragédias humanas do Brasil, seja pelos danos ambientais provocados, essa situação foi comparada ao que ocorreu em Mariana em novembro de 2015. Devido aos desdobramentos, tanto para a população como para a natureza, ambos os casos são gravemente caracterizados como  tragédias, ainda que,  em comparação, os danos ambientais oriundos do rompimento da barragem na Mina Feijão, em Brumadinho, tenham sido menores do que os oriundos do desastre de Mariana. Na época, uma barragem da Samarco também se rompeu, deixando 19 mortos e centenas de desalojados devido à destruição das comunidades. O grave impacto ambiental provocado pela catástrofe provocou devastação de florestas e a poluição da bacia do Rio Doce, efeitos que os moradores locais sentem até hoje. Apesar de a barragem estar inativa e sem receber rejeitos há três anos, a tragédia em Brumadinho está no topo dos maiores desastres mundiais com rompimento de barragens com minério devido ao dano humano, marcado por 206 mortos e 102 desaparecidos até então.  Dessa forma, nos últimos três anos, o Brasil vive duas graves calamidades ambientais e humanas em favor da ampliação da capacidade produtiva de minas de ferro, tratando com descaso os alertas de ambientalistas e associações de moradores, ignorados quanto às reivindicações feitas.

A fim de investigar o assunto com os estudantes, diversos dados informados pela grande mídia nacional, a partir de reportagens publicadas em texto verbal e videorreportagens, foram apresentados pelo professor de Geografia, revelando diferentes pontos de vista sobre as tragédias em Mariana e Brumadinho. A questão do licenciamento e da legislação CONAMA, vigente e publicada entre  setembro de  1984  e  janeiro  de  2012, foi contemplada pela fala do Diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica em entrevista concedida ao “Repórter Eco”. Professores da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) demonstraram, por meio de uma simulação da tragédia de Brumadinho feita em uma maquete, o processo de liquefação causador da erosão interna da barragem, divulgado no “Fantástico”em 3 de fevereiro deste ano . Retirado do livro Tragédia em Mariana, de Cristina Serra, o relato de Paula Geralda Alves, 37 anos, que trabalhava no plantio de mudas para a empresa prestadora de serviços da Samarco na área de reflorestamento, emociona a plateia de alunos e professores, pois a auxiliar de serviços gerais conseguiu, montada na Berenice (como ela chama sua moto vermelha), salvar a vida de parte de população espalhando pela comunidade a notícia do rompimento da barragem de Mariana. Imagens de satélite de antes e depois das tragédias mostram comparativamente a dimensão dos danos causados pelo rompimento das barragens tendo em vista as áreas afetadas. Gráficos e infográficos se referem ao histórico dos registros de acidentes e incidentes em barragens brasileiras, assim como explicam aos estudantes o processo de mineração.

Dessa forma, a partir de recursos verbais e audiovisuais diversos, Douglas Scaramussa complexificou o estudo e a reflexão sobre as catástrofes de Mariana e Brumadinho, esclarecendo o papel da atividade mineradora no Brasil. As diferentes instituições e os atores sociais envolvidos nas tragédias, bem como a análise dessas catástrofes, foram representados na palestra. Os alunos e as alunas puderam não apenas se informar sobre os fatos, mas, principalmente, ter a oportunidade de formular uma opinião própria a partir do conhecimento adquirido.

É importante destacar que, no 7° ano, as duas tragédias são os estudos de caso investigados para se compreenderem os eixos norteadores do curso: Apropriação da natureza, Produção de mercadorias e aCrise socioambiental. Com isso, a palestra sobre as tragédias também serviu para aprofundar o conteúdo do 7° ano e para relembrar e reelaborar situações vividas pelas turmas de 8° e 9° ano. Devido às pesquisas e fóruns de debates proporcionados como estratégias de metodologia de estudo, a construção desse conhecimento na Escola Móbile conta com a colaboração participativa do alunado, o que foi apresentado por Scaramussa ao retomar, por meio de vídeos, as falas dos estudantes durante a palestra.

O desenvolvimento da criticidade e da autonomia intelectual, estimulados por meio da busca de informação e de soluções para problemas da realidade social, são eixos do Projeto Pedagógico da Escola Móbile.

Palestra sobre Mariana e Brumadinho



  • Agência Pública: Brasil registra mais de três acidentes em barragens por ano.
  • “Fantástico”, 03/02/2019.
  • Fonte: Samarco. Infográfico: Ana Paula Campos / Ilustração: Alexandre Affonso.
  • Nexo. O que há de tóxico na lama da Vale em Brumadinho.
  • Veja: Cidade de MG decreta situação de emergência por lama no Rio Paraopeba.
  • Palestra do professor Douglas Scaramussa.