Pós-verdade, o ódio na internet e as redes sociais
17 de abril de 2017
“Cientista político afirma que idosos são inúteis à sociedade.” Essa afirmação, atribuída a Leonardo Sakamoto, circulou há alguns anos em um jornal de Minas Gerais, supostamente extraída de uma entrevista dada por ele. Apesar de comprovadamente falsa, a matéria foi compartilhada por um número inimaginável de usuários de redes sociais, os quais reverberavam ódio e rancor, repetindo um comportamento cada vez mais comum nesse universo.
No dia 24/03, Sakamoto compartilhou com mais de 100 alunos do Ensino Médio as consequências da disseminação dessa notícia falsa, que envolveu desde xingamentos na fila do supermercado até ameaças de agressão física, e contou como essa e outras situações semelhantes motivaram a escrita de seu mais recente livro, O que aprendi sendo xingado na internet.
Partindo delas, analisou um tópico que interessa especialmente aos alunos do 2º ano, que, no curso de Língua e Produção, têm discutido a chamada “pós-verdade”. O conceito refere-se a uma característica importante da contemporaneidade, em que apelo emocional, político ou ideológico é privilegiado em detrimento da veracidade das informações.
Sakamoto tratou, ainda, da criação de “bolhas” nas redes sociais, que dificultam, cada vez mais, o diálogo entre pessoas ou grupos com perspectivas distintas, e discutiu o caráter paradoxal da rede, que dá acesso a mais informações, mas, ao mesmo tempo, cria um ambiente que favorece a superficialidade do conteúdo.
Encontros como esse permitem que discussões sobre o universo da internet, normalmente permeadas por clichês e sensos comuns, tornem-se mais complexas e problematizem, de fato, questões que afetam a formação intelectual de nossos alunos.
André Fernandes é professor
de Língua e Produção do Ensino Médio da Móbile.