Ruas Modernistas
28 de outubro de 2012
“A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido lógico ou vivencial.”
(Mikhail Bakhtin)
A rua é o espaço da pluralidade e da diversidade cultural. Ela oferece múltiplas oportunidades de leitura, por ser a trama que amarra muitos passantes, paisagens, tempos e conflitos. Na literatura modernista, ela foi algumas vezes não apenas a matéria-prima do produto lírico criado, mas a inspiração do sujeito urbano. Porém, de que modo a palavra, termo abstrato manejado pelo poeta, relaciona-se à concretude da cidade?
O Movimento Modernista, marcado inicialmente pela Semana de Arte de 1922, defendia a liberdade de expressão a partir de uma linguagem coloquial e inovadora. A língua era entendida como um sistema mutável e vivo, assim como os próprios falantes. De acordo com essa perspectiva, as ruas tornavam-se um laboratório experimental de uso da palavra em circulação. Por isso, conhecer a cultura e a linguagem nacional, caracterizada por estrangeirismos e por diferentes dialetos, era um dos objetivos dos jovens artistas e foi algo que definiu suas obras.
Além disso, o processo de urbanização, no início do século XX, evidenciou a cidade como um espaço em transformação. Indústrias, bondes, carros, postes elétricos, edifícios e avenidas eram elementos constituintes da nova paisagem. Sob o ponto de vista das vanguardas europeias, os modernistas valorizavam as metrópoles pelo seu ritmo acelerado, por suas formas geometricamente futuristas, pelas muitas imagens cotidianas e pela influência desses aspectos no mundo interior do homem. No Brasil, a cidade de São Paulo foi um dos principais centros de convivência dos intelectuais revolucionários da arte nacional e, também, a musa inspiradora para elaboração de poemas e pinturas.
A partir da leitura de alguns poemas de dois participantes da Semana de Arte Moderna e representantes desse Movimento, os alunos do 8º ano desenvolveram seu trabalho sobre São Paulo. O primeiro poeta estudado, Mário de Andrade, apresentou uma pauliceia desvairada formada por um turbilhão de imagens objetivas da cidade, associadas à realidade subjetiva do conflituoso eu lírico.
O segundo, Oswald de Andrade, caracterizado por suas irreverências líricas e por seu estilo conciso, apresentou o ambiente do progresso sob o olhar infantil do aluno que produz seu primeiro caderno de poesia.
Durante as aulas, o texto verbal lírico foi comparado à pintura de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. As relações estabelecidas entre as diferentes expressões artísticas vão além do tema, pois a representação das formas e das cores peculiares das ruas tornou-se um caminho com destino à linguagem modernista no Brasil. A sugestiva arquitetura urbana representou o cenário da reflexão poética sobre o mundo e o homem.
Portanto, por meio desse estudo, as ruas paulistanas foram traduzidas poeticamente mais uma vez por jovens. Alunos que, ao recriarem a palavra, representaram pontos de vistas diversos sobre o mesmo espaço urbano modernista, o qual continua em constante e permanente mudança.
Márcia Ruiz
Professora de Língua Portuguesa do
8º ano do Ensino Fundamental