Só um filme da Disney?

18 de junho de 2020


Entrar em contato consigo mesmo não é uma tarefa fácil quando se é adolescente. Época de descobertas, alegrias e rancores, talvez, entre todas as exigências da vida, a que mais angustie nossos alunos seja a descoberta de seu próprio eu. Difícil estabelecer o que, entre tantas personas que assumimos no dia a dia, corresponde à verdadeira imagem de alguém. Difícil saber, inclusive, quais são todas essas personalidades que assumimos. Como diria Drummond, “(…) das peles que visto/ muitas há que não vi”.

Abordar um assunto como esse sempre parece uma viagem a um universo árido, em que o debate sobre a construção da personalidade precisa passar por uma série de referenciais teóricos complexos, os quais, sem dúvida, são necessários para o entendimento do mundo. Nem sempre, no entanto, discussões como essas partem da vivência imediata de nossos alunos e mesmo nossas. Afinal, nem só de Drummond vivem os professores, certo?

Foi ao beber diretamente na vivência de um de nós que chegamos à ideia de analisar o filme Moana: um mar de aventuras com nossos alunos. Lívia, Coordenadora Educacional do 1º ano, havia mencionado as diversas aflições que possui a respeito do filme, motivada pela experiência de assistir à obra semanalmente com sua pequena filha Martina. Teresa, professora de História, e André, professor de Língua e Produção, também reconheceram a possibilidade de discutir com os alunos a questão da construção da identidade a partir da narrativa do filme. Afinal, por que negar que a cultura de massa faz parte de nossa vida e da dos alunos?

Em um debate realizado pela plataforma Zoom, mais de 50 alunos do Ensino Médio debateram as maneiras pelas quais o filme lida com a discussão da personalidade. Seja levantando pontos de identificação com a trajetória questionadora da protagonista, seja problematizando como o filme reforça diversos estereótipos que supostamente se propõe a combater, a discussão foi extremamente rica e motivada pelo olhar curioso e ávido por conhecimento de nossos alunos.

Se saímos do encontro com uma resposta sobre quem realmente somos, é difícil dizer, mas é possível garantir que questionar processos de autoconhecimento com um grupo tão diverso e aberto à novidade é sempre uma experiência transformadora  ̶  mesmo quando o objeto analisado é, como dizem à boca pequena, “só um filme da Disney”.