Teatro contra o ódio

25 de novembro de 2016


Pensar as diferenças talvez seja um dos grandes desafios do nosso tempo. Afinal, não basta apenas aceitá-las ou, ao contrário, ignorá-las. Gólgota foi apenas um princípio é um espetáculo que busca justamente oferecer uma reflexão sobre o ódio no Brasil, para, assim, alertar para as suas possíveis consequências. Mais do que isso, porém, trata-se de uma peça sobre a dificuldade de lidar com as diferenças e com os afetos que decorrem dessa dificuldade. Temos o costume de temer o que não conhecemos e o que não compreendemos, e a esse temor inicial nos habituamos a responder com agressividade.

Nesse sentido, receber um grupo tão grande de adolescentes, perceber o seu envolvimento e o seu incômodo com a trama da peça e, ao final, identificar em suas vozes o desejo de mudança foi, para nós, artistas, uma verdadeira recompensa. Como diretor do espetáculo, professor de Criação Literária da Móbile e ex-aluno dessa escola, eu me senti particularmente grato por esse encontro, no qual tive reasseguradas minhas crenças nas potências de transformação da arte e da educação.

É, afinal, necessário que compreendamos o que é a diferença e o que é ser diferente para que possamos, com sorte, conceber um mundo em que não tenhamos que nos preocupar tanto com o medo e com o ódio. Para isso, no teatro, nos esforçamos para proporcionar experiências que nos convidem a sonhar com um universo em que o sofrimento seja virtualmente inexistente. E, na Móbile, trabalhamos, a todo o tempo, para a formação de cidadãos conscientes e empenhados na construção de uma realidade mais justa e menos violenta.

Seguimos, portanto, juntos.

Luiz Farina é professor de Criação Literária.