Um convite ao sentir

6 de dezembro de 2017


Como finalização do curso, nos dias 6 e 7 de novembro, os alunos do 1º ano do Ensino Médio matriculados na eletiva de Teatro apresentaram o exercício cênico Parábola – um percurso em dois movimentos.

O título do exercício apresentado remete às pequenas narrativas protagonizadas por seres humanos que, a partir de eventos e fatos da vida cotidiana, transmitem lições de sabedoria. Remete também, no contexto da Matemática, a uma curva plana aberta, definida como o conjunto dos pontos que são equidistantes de um ponto dado e de uma reta dada. Uma parábola poderia ser exemplificada como a trajetória de um míssil que é lançado para cima e para alguma direção horizontal, desenvolvendo-se no ar num movimento oblíquo. Esse movimento começa ascendente, alcança um pico e depois inicia sua decida. E essa decida acaba quando o míssil explode. Bum! E isso é o fim, mas já se disse que “todo fim é um início”.

O exercício cênico – assim denominado dado o seu caráter experimental, processual – foi dividido em duas partes (dois movimentos). No primeiro, partiu-se das quatro estações do ano (primavera, verão, outono e inverno) para tratar da Natureza, incluindo a humana. As quatro estações (conceitualmente falando) geraram composições cênicas com diferentes visualidades e dinâmicas de movimentos que poderiam ser encaradas como energias complementares, ou seja – metaforicamente falando –, elementos formadores de nossa humanidade. Com o auxílio de diversos materiais (como elásticos, bambolês e tecidos de diversos tamanhos e cores), foram apresentadas partituras corporais que evocavam os muitos sentimentos humanos que, inevitavelmente, nos acompanham por toda a vida.

Já o segundo movimento apresentava a fragilidade e inconstância das relações humanas a partir de diversas dinâmicas – quase danças – criadas com o auxílio de 3 mesas e 14 cadeiras postas em cena como suportes metafóricos. A tensão entre os corpos e esses aparatos cenográficos criava inúmeros momentos vividos com intensidade pelos alunos-intérpretes. A partir de um roteiro de ações e de subtextos combinados previamente, as dinâmicas se deram de maneira improvisada, o que potencializou as ações, reações e emoções vividas no palco. O roteiro (falado pelos intérpretes no início do movimento) era composto por palavras-chave que guiavam os atores nas ações. Palavras estas tão diversas quanto “conforto”, “desconforto”, “mudanças”, “desequilíbrio”, “perigo”, “alívio”, “exaustão”, “espera”, “riso”, “gargalhada”, “imobilidade”, “desconfiança”, “discórdia”, “empatia”, “reconhecimento”, “ironia”, “persuasão”, “mentira”, “violência”, “solidão”, “tristeza”, “liberdade” e “empatia”. Alguns dos subtextos propostos aos alunos-intérpretes pelo diretor e professor de Teatro foram: “Esta cadeira está desconfortável, acho que quero mudar”; “Uma bomba irá explodir em uma dessas cadeiras a qualquer momento”; “Esta cadeira é minha, você pode sair dela, por favor?”

Diferente do teatro tradicional – dramático, pautado na relação entre personagens e uma linguagem dialógica –, o exercício cênico apresentava uma dramaturgia mais de movimentos do que de falas, mais de impressões do que de fatos em sequência. O teatro é por natureza metafórico, sabe-se. E a proposta apresentada radicalizou essa característica, mostrando à plateia apenas indícios de situações que qualquer um (ou todos!) poderiam ter visto ou vivido. Era preciso, por parte dos espectadores, completar as lacunas do que seria visto, ouvido e sentido, com lembranças e conclusões de sua própria memória e criatividade, a partir de suas próprias idiossincrasias. Parábola apresentou uma série de pontos. Coube a cada espectador, entretanto, ligá-los à sua maneira, a partir de sua imaginação, sua vivência, suas crenças.

Ajuda-nos a refletir sobre a experiência vivida pelos alunos do 1º ano um pensamento do renomado diretor teatral polonês Jerzy Grotowski, figura importante para o avanço das artes cênicas no século XX:

“Se um fenômeno pode ser definido como ‘é isso, apenas isso’, significa que ele existe apenas em nossas mentes. Mas se ele tem uma existência real, nunca podemos ter a esperança de defini-lo completamente. Suas fronteiras estão sempre em movimento, com exceções e analogias se abrindo o tempo todo.”

Guilherme Yazbek é diretor, ator e
professor da eletiva de Teatro do Ensino Médio