VIII Mostra Literária da Móbile
27 de março de 2017
“Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos
Em um olho mais límpido
Me olha o que eu olho
É minha criação
Isto que vejo
Perceber é conceber
Águas de pensamentos
Sou a criatura do que vejo.”
(Octavio Paz)
No dia 5 de novembro de 2016, aconteceu a VIII Mostra Literária da Escola Móbile. O verso “Sou a criatura do que vejo”, presente no poema “Blanco”, de Octavio Paz, funcionou como disparador para diferentes reflexões que culminaram nos trabalhos apresentados por alunos desde o 1º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio.
Ao longo de toda a exposição, os visitantes foram convidados a refletir sobre valores como a empatia, o altruísmo e o respeito à diversidade. Por meio de abordagens de problemas presentes em nosso tempo, os trabalhos buscaram desconstruir pontos de vista que promovem julgamentos precipitados e sentimentos hostis. Nesse processo, os alunos sugeriram a REconstrução dessas visões, condenando assim as atitudes que segregam, excluem e geram dor, sofrimento e violência.
No início da exposição, os visitantes foram recepcionados por uma grande “caixa de Pandora”, de onde escaparam, simbolicamente, os maiores males de nossa humanidade: o rancor, o ódio, o preconceito, a violência, entre outros. A partir dessa constatação, iniciou-se um percurso de reflexão sobre o modo como cada um constrói seu próprio olhar e de proposição das diferentes maneiras de se olhar além.
O 1º ano do Ensino Fundamental trabalhou com o livro O cabelo de Cora, de Ana Zarco Câmara, que conta a história de uma menina que vive alguns conflitos sociais devido ao fato de ter um cabelo diferente do da maioria de seus colegas. A partir dessa leitura, os alunos puderam refletir sobre a relação entre o cabelo e a construção da identidade e também sobre a riqueza da diversidade.
Partindo da reflexão sobre o papel que nossos corpos ocupam na sociedade atual e como são “moldados” por ela, o 9º ano apresentou, por meio de poemas, a busca pela libertação dessa imposição social. O título “Corpos livres” funcionou como mote para a produção poética dos alunos.
Os alunos 3º ano do Ensino Fundamental trabalharam com o livro Os-nada-a-ver, de Jean-Claude R. Alphen e Juliana Bollini, e conheceram personagens que se privavam de viver incríveis experiências pelo medo de viver com o diferente. Assim como uma das personagens do livro, que decide olhar para um grupo vizinho e se encanta com o que vê, os alunos deram vida a novos personagens e se permitiram olhar para o lado, vivendo as diferenças e enxergando a riqueza da diversidade.
Em “A insustentável leveza ou poemas para olhar além”, os alunos do 6º ano foram convidados a, simbolicamente, estourar suas bolhas e olhar para fora de seu próprio círculo social, enxergando possibilidades de vivências para além do que se poderia prever a partir do lugar que ocupam e reconhecendo, assim, outras realidades.
Os alunos do 4º ano foram convidados a discutir sobre as diferentes possibilidades de estrutura familiar presentes na sociedade atual, refletindo a respeito das características que tornam um grupo de pessoas uma família.
O 2º ano do Ensino Fundamental trabalhou com a desconstrução dos estereótipos de princesas e príncipes presentes nos contos de fadas. A partir dessa desconstrução, foram discutidas questões de gênero relacionadas a profissões, possibilitando aos alunos imaginarem-se no futuro com maior liberdade.
Estabelecendo relação com o trabalho do 2º ano do Ensino Fundamental, o 5º ano discutiu questões de gênero a partir da leitura do livro A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga, o qual apresenta uma personagem que descobre que ser menina é tão legal quanto ser menino, pois tanto um quanto o outro têm a liberdade de fazer aquilo que acharem melhor para si e de se divertirem da forma que quiserem.
Dando continuidade à reflexão sobre os gêneros, os alunos do 1º ano do Ensino Médio foram convidados a dar voz a personagens femininas emblemáticas da literatura mundial. A partir desse trabalho, os visitantes puderam refletir sobre o papel da mulher em nossa sociedade.
A busca pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e entre brancos e negros, temática recorrente na poesia de Maya Angelou, foi o mote para a produção dos poemas em língua inglesa, produzidos pelos alunos do 9º ano. Inspirados pela autora, os alunos foram convidados a quebrar seus próprios preconceitos, em busca da igualdade.
Uma das maneiras de desconstruir preconceitos e promover a igualdade é, sem dúvida, a aproximação. Ouvir o outro, compreender sua realidade e, principalmente, colocar-se em seu lugar foram os desafios propostos aos alunos do 7º ano no projeto Histórias Cruzadas. Após o estudo da história da escravidão no Brasil e da importância da cultura africana na formação de nossa identidade, os alunos criaram personagens africanos, de diferentes grupos étnicos, e, por meio de narrativas, puderam compreender profundamente uma realidade de dor e sofrimento, mas também de esperança e luta pela preservação da cultura.
Inspirados pelas produções do escritor Marcelino Freire, os alunos do 3º ano do Ensino Médio produziram textos dissertativos, refletindo sobre a ideia de cultura dominante e suas consequências como o preconceito e a violência que atingem, principalmente, as minorias.
A partir da leitura de trechos originais do romance Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, o 8º ano realizou uma análise das diferentes facetas atribuídas ao famoso personagem. Por meio de representações pictóricas e descrições em língua espanhola, os alunos exploraram a multiplicidade do protagonista e refletiram de que maneira tais características representam, em certa medida, nossa própria complexidade.
Para entender a cidade que ocupam no espaço em que vivem, os alunos do 8º ano estudaram as diferentes representações de cidade na literatura e refletiram sobre a construção de estereótipos relacionados a essa ocupação. Por meio de crônicas, criaram reflexões acerca de suas relações com a cidade de São Paulo e das percepções sobre os outros que também habitam esse lugar.
Seguindo a temática da cidade de São Paulo, o 2º ano do Ensino Médio, dando continuidade ao projeto Móbile na Metrópole, retratou, em suas crônicas, a realidade de personagens que, apesar de circularem pelo mesmo espaço, passam despercebidos. A existência dessas pessoas em nossa cidade gerou uma importante reflexão a respeito das contradições sobre nossa cidade e, principalmente, sobre a ausência de empatia em um espaço que, embora coletivo, está inundado de individualismos.
Durante o evento, foram projetados, no auditório, os vídeos da 2ª mostra de minidocs Móbile na Metrópole. Produzidos pelos alunos do 2º ano do Ensino Médio, os pequenos documentários abordavam os mais diversos temas relacionados à (In)Tolerância na cidade de São Paulo.
Além da exposição dos trabalhos, houve também a tradicional Feira de Livros.
Após percorrerem toda a exposição, os visitantes, inspirados por palavras que representam sentimentos e valores de um mundo que preza pelo respeito, pela convivência e pela diversidade, foram convidados a compartilhar suas impressões e expectativas de futuro por meio de pequenas mensagens deixadas na saída da exposição.