Com que roupa eu vou? – Trajes na escola: identidade e adequação
5 de abril de 2013
A importância do projeto Trajes na escola: identidade e adequação
O que é o projeto?
O projeto consiste em promover reflexões a respeito da pertinência dos trajes que são escolhidos por crianças e jovens para frequentar diferentes ambientes, entre eles o escolar.
A Móbile, como não faz uso do uniforme, tem pela frente um compromisso: debater com os alunos qual a fronteira entre o estilo pessoal ou do grupo e a adequação das vestimentas ao espaço escolar.
Qual é a importância de debater o tema?
É inequívoco que roupas e acessórios carregam significados: comunicam valores e a disposição de pertencer a um grupo “a” ou “b”; manifestam um movimento individual ou grupal em busca de diferenciações; provocam julgamentos; estimulam aproximação ou rejeição entre as pessoas. Por essas razões, planejar espaços de discussão em que os alunos possam pensar sobre o assunto, tendo a possibilidade de ouvir diferentes pontos de vista e de argumentar sobre a adequação das roupas, é fundamental para o posicionamento crítico de todos.
Sem dúvida, o lugar dos educadores é o de aprimorar a capacidade dos alunos de fazer escolhas e responsabilizar-se por elas. Assim, criar situações em que crianças e jovens possam refletir sobre os parâmetros que balizam o convívio coletivo é um exercício importante para que eles reconheçam que um ambiente democrático é aquele que considera as diferenças e a liberdade de expressão dentro de princípios que traçam as fronteiras entre o individual e o coletivo, agregando valor positivo à convivência.
Desde pequenas, as crianças aprendem com os adultos comportamentos que as integram à vida em grupo. Logo, no período de vida compreendido entre a infância e a idade adulta, espaço de tempo em que os indivíduos se arriscam mais, os adultos não podem se furtar do compromisso de provocar a reflexão dos adolescentes sobre novos temas de interesse, como, por exemplo, o modo de se vestir e de falar. É com os adultos que os jovens têm a oportunidade, ou não, de aprender que toda relação flexível pressupõe o debate de ideias e não se esquiva da elaboração de regras.
No convívio escolar, os alunos aprendem, por exemplo, que o estilo adotado por um indivíduo ou por um grupo para se expressar perpassa o reconhecimento de normas que regulam a convivência; por isso, as escolhas de todos precisam levar em conta um conjunto de princípios que baliza as relações de quem compartilha o mesmo espaço. Os ambientes que as pessoas frequentam, assim como a natureza das atividades realizadas nesses diferentes lugares, determinam, por exemplo, o uso das vestimentas e dos acessórios. Como a escola é um ambiente de estudo e de trabalho, as roupas que atendem às demandas das atividades propostas devem ser confortáveis e funcionais e o foco de atenção dos alunos não deve estar no desfile de marcas, de maquiagem, denunciando, em parte, certa submissão à moda e exposição excessiva. As roupas estão, portanto, vinculadas às funções dos lugares: minissaias, shorts curtos, vestidos de pouco comprimento e “tops” atendem, por exemplo, às necessidades de uma praia ou de um clube; já os trajes mais sofisticados, às demandas de ocasiões mais festivas.
Examinar, portanto, os parâmetros que fazem com que uma roupa seja apropriada ou não para um ambiente implica trabalhar também com um conjunto de opiniões, gostos e apreciações críticas, assim como modos de agir coletivos, aceitos por determinado grupo num dado momento histórico. Por isso, o debate, se não levar em conta todos os ângulos da questão, corre o risco de parecer, em um primeiro momento, impositivo e rígido. A circulação respeitosa de ideias favoráveis e desfavoráveis sobre o tema diminui a natureza hostil que algumas determinações podem ter e, quanto maior a difusão de opiniões, contraditórias ou que se dirijam para um ponto comum, maior a possibilidade de se chegar a um consenso livre de intransigências e inflexibilidades.
De que forma o tema foi abordado?
A construção de uma perspectiva crítica e reflexiva sobre a pertinência dos trajes que são escolhidos para frequentar diferentes ambientes, entre eles o escolar, mobilizou as aulas de Orientação Educacional do Ensino Fundamental II, oportunidade em que os alunos desenvolveram a capacidade de observar e respeitar o pluralismo de modos de ser, tendo como princípio básico a manutenção de uma coexistência harmoniosa. Para construir essa perspectiva crítica e reflexiva, foram projetados slides com jovens vestidos de diferentes maneiras em situações diversas a fim de promover um olhar observador que não pretende valorar escolhas, mas identificar se as roupas estão ou não adequadas a determinados espaços de convivência.
Nessa etapa do trabalho, os alunos dialogaram, argumentaram, desenvolveram a capacidade de ouvir diferentes pontos de vista, discordaram, colocaram-se no lugar do outro e envolveram-se com o tema. O fato é que as discussões, livres da atribuição de julgamentos, sensibilizaram alunos e educadores para um ajuste democrático dos parâmetros que norteiam as escolhas. Um dos princípios do projeto foi agregar um enfoque positivo às discordâncias.
A construção da identidade é um processo lento, contínuo e que não é fácil: quando criança, o indivíduo está submetido às escolhas dos pais, que definem a vestimenta de acordo com o que acreditam ser o melhor para o próprio filho; na adolescência, as amarras afrouxam e instaura-se o espaço da experimentação, período em que os jovens exercitam suas escolhas. Vale destacar que toda experimentação pressupõe desequilíbrios, erros e acertos e, muitas vezes, baixo juízo crítico. Por isso, a importância do diálogo.
Sem dúvida, o projeto estimula a reflexão dos alunos sobre questões importantes, como “Quem eu quero ser?” e “Quais princípios regem minhas escolhas?” e legitima o adulto como parceiro do adolescente.
Como tratar a questão do consumismo e dos padrões impostos pela mídia?
Os debates não puderam se esquivar de questões que se colocam para os jovens e nem sempre são questionadas ou colocadas em pauta pela família ou pelo grupo de iguais, tais como a imposição de estilos ditados por modismos, como a tirania das marcas, que se colocam como condição de pertencimento a um grupo. A psicóloga Rosely Sayão, ao analisar o que é ser diferente no mundo do consumo, lançou questões que agregam maior qualidade à discussão: As pessoas gostam mesmo do estilo que criam, das roupas que vestem, da maneira como as combinam? As roupas exprimem o que realmente gostariam de ser? (clique aqui para visualizar o texto).
É fato que o consumismo vincula-se à necessidade dos adolescentes de se identificar com um padrão que, de alguma forma, garanta-lhes o pertencimento a um grupo que, em grande parte, responde a um ideal de jovem belo, livre e rebelde ditado pela publicidade. Na ânsia de se diferenciar do mundo adulto, muitas vezes, os jovens se submetem à uniformização de comportamentos, em obediência a uma mesma aparência e forma de agir.
Colocar em destaque a percepção do consumo como uma doutrina ininterrupta que acomoda as pessoas a um molde que precisa ser reproduzido valoriza as relações humanas no âmbito das conquistas de vínculos afetivos, em que o ser se sobrepõe ao ter e, portanto, o valor do outro não se dá pelo traje que usa, mas pela possibilidade de construir amizades sólidas e permanentes, alicerçadas em valores que não se limitam à aparência.
O que pensam os adolescentes sobre a importância do Projeto?
O fórum de discussões, uma das etapas do Projeto Trajes na escola: identidade e adequação, agregou qualidade às percepções e manifestações de alunos e educadores e, sem dúvida, as falas ampliam os referenciais de todos que se interessam pelo tema.
Depoimentos
– Alunos do 6º ano
– Alunos do 7º ano
– Alunos do 8º ano
– Alunos do 9º ano
Artigo